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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Gilberto Freyre, o fundador da democracia racial no Brasil


Gilberto Freyre atacou, em Casa-Grande & Senzala, as concepções raciais e os determinismos climáticos adotados tanto pelos nacional-socialistas quanto por intérpretes consagrados do Brasil, como o crítico Sílvio Romero, o escritor Euclides da Cunha e o sociólogo Oliveira Viana, que responsabilizavam o clima tropical insalubre e as populações mestiças, tidas como neurastênicas e degeneradas, pelo atraso do país. Freyre mostrou, ao contrário, que a origem de tal atraso estava em causas sociais de alimentação e higiene.

Ao contrário dos intelectuais da época, que olhavam com desprezo as manifestações populares, Freyre valorizou a cultura brasileira por seu caráter sincrético e criticou os preconceitos sobre a inferioridade dos negros, índios e mestiços e a visão pessimista do país adotada pelas elites e pelos intelectuais. Mostrava ser desprovida de fundamento a afirmação da superioridade ou da inferioridade de uma raça sobre a outra, ainda que acreditasse na existência de uma hierarquia entre as diversas formas de cultura.

Conseguiu assim a façanha teórica de dar caráter positivo ao mestiço. Hermano Vianna observou, em O Mistério do Samba, que o brasileiro "passou a ser definido como a combinação, mais ou menos harmoniosa, mais ou menos conflituosa, de traços africanos, indígenas e portugueses, de casa-grande e senzala, de sobrados e mucambos".3 Antes vista com um misto de horror e vergonha, a mestiçagem se convertera em fusão harmoniosa de raças e culturas e em valor a ser preservado, por garantir a especificidade do Brasil diante de outras nações.

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