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domingo, 21 de novembro de 2010

Dilma e os médicos

Dilma almoçou com 26 médicos em São Paulo no sábado (20). No almoço foram servidos camarão à provençal, bacalhau, cordeiro e sericaia, um tradicional doce português. Organizado por seu cardiologista particular, os convidados pertencem à elite da medicina privada. Estavam lá o presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar),ou seja, planos de saúde, Maurício Ceschin, e o médico Drauzio Varella, rede Globo. 


Chamada de reunião informal pelo organizador do evento, o dado concreto é que essa elite médica governa a saúde pública no Brasil. Não foi diferente no governo Lula. É uma prática estratificada e sedimentada de poder e difícil de ser combatida porque, além do nível federal, é descentralizada. Em cada município brasileiro de médio porte são os grupos privados, com empresas hospitalares e planos de saúde, que indicam o secretário de saúde e controlam a política pública da área. A regra é simples e fácil de entender: Uma saúde pública em nível de atendimento hospitalar e especializado excelentes é prejuízo para hospitais privados e planos de saúdes. O que é permitido ao poder público é apenas cuidar das atenções primárias de saúde e o funcionamento de hospitais públicos para o serviço mais dispendioso que é o atendimento da urgência. Daí para frente só a rede privada...


A elite médica privada mundial loteou a medicina em especialidades. A medicina, uma campo tão vasto, não poderia funcionar sem especialistas. Mas aqui a diferença é que a especialidade se apropriou da área médica de sua referência e todo médico que não tiver título de especialista na área em que realizou um atendimento é um clandestino. Oficialmente, o Conselho Federal de medicina diz que o que habilita o exercício profissional é o diploma. No entanto, o médico tem que fazer isso escondido, ele não pode anunciar que está atendendo, por exemplo, ginecologia, exceto se tiver título de especialista. E há diferença entre um médico que coloca no carimbo atendimento em ginecologia e um que coloca especialista em ginecologia ou ginecologista. Mas para o CRM (Conselho Regional de Medicina) mencionar área específica de atendimento é vedado ao médico não especialista.  E quem vai denunciar o médico sem título na área da especialidade que atenda no consultório particular e por acaso esteja sendo bem sucedido são os próprios colegas médicos. E como a população só confia em especialistas então é fim da linha para quem usa apenas como título a palavra Médico;


O destino dos clandestinos médicos é o serviço público, nas unidades básicas de saúde, nos pronto socorros, tudo aquilo que o especialista não quer por razões óbvias: baixos salários e péssimas condições de trabalho. Mas obviamente que o modelo privado de atendimento especializado, vendido à exaustão na mídia, cai na ilusão do usuário do serviço público que espera anos pela consulta com o especialista e despreza o tratamento do seu médico da atenção básica da saúde que lhe garante a saúde e que é muitas vezes superior ao que vai dedicar o especialista, que por alguma razão, atenda o SUS...Obviamente que há muitos casos em que só o especialista pode oferecer o tratamento.


E como apenas 30% do médicos recém formados conseguem vagas na residência médica para seguir o caminho da especialização sãos raros e disponíveis na medicina privada. Esse é o x da questão já assinalado.


Confio nas boas intenções da Dilma e espero que tenha saboreado o almoço com a elite médica, mas sugiro que também almoçe no andar de baixo...



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